Odores aceleram regeneração celular

 Apesar de ser um dos sentidos humanos mais antigos, o odor foi um dos últimos a ser estudado. Nos últimos dez anos, mais ou menos, cientistas descobriram que os receptores olfativos não estão presentes apenas no nariz, mas estão em todo o corpo, exercendo papel crucial em uma série de funções fisiológicas.

Agora uma equipe de biólogos descobriu que nossa pele está cheia de receptores olfativos.

Não apenas isso: a exposição de um desses receptores a um odor sintético de sândalo, conhecido como Sandalore, desencadeia uma enxurrada de sinais moleculares que parecem induzir à cura de tecidos lesionados.

Numa série de testes, Hanns Hatt, da Universidade Ruhr Bochum, na Alemanha, constatou que a pele se recupera 30% mais rapidamente de abrasões quando há Sandalore presente. Cientistas acham que a descoberta pode levar à criação de produtos contra o envelhecimento da pele e de novos tratamentos para traumas f ísicos.

A presença de receptores olfativos fora do nariz pode parecer estranha à primeira vista, mas, como observaram Hatt e outros, esses receptores estão entre os sensores químicos mais evolutivamente antigos do corpo, sendo capazes de detectar compostos de inúmeros tipos.

“Se pensamos nos receptores olfativos como detectores químicos especializados, em vez de receptores nasais capazes de detectar odores, então faz muito sentido que eles estejam em outros lugares“, comentou Jennifer Pluznick, professora de fisiologia na Universidade Johns Hopkins em Baltimore. Em 2009, ela descobriu que os receptores olfativos ajudam a controlar a função metabólica e a regular a pressão sanguínea dos rins de camundongos.

Pense nos receptores olfativos como um sistema de fechadura e chave, sendo uma molécula de odor a chave da fechadura do receptor. Apenas certas moléculas se encaixam com certos receptores. Quando a molécula correta aparece e pousa sobre o receptor que corresponde a ela, desencadeia o envio de um sin al n ervoso ao cérebro, que nós apreendemos como odor. Mas o mesmo sistema pode cumprir outras funções.

Em um estudo publicado em 2003, Hatt e seus colegas escreveram que receptores olfativos encontrados no interior dos testículos funcionam como uma espécie de sistema químico de orientação que possibilita aos espermatozoides encontrar o caminho até um óvulo não fertilizado.

Desde então, Hatt já identificou receptores olfativos em vários outros órgãos, incluindo fígado, coração, pulmões, cólon e cérebro. Evidências genéticas sugerem que quase todos os órgãos do corpo contêm receptores olfativos.

Em 2009, por exemplo, Hatt e sua equipe informaram que a exposição de receptores olfativos na próstata humana ao beta-ionona, composto odorífero primário presente em violetas e rosas, parece inibir a disseminação de células cancerosas da próstata.

No mesmo ano, a bióloga Grace Pavlath, da Universidade Emory, em Atlanta, publicou um estudo sobre receptores ol fativos em músculos esqueléticos. Ela descobriu que, quando os receptores são banhados em Lyral, fragrância sintética com perfume do lírio do vale, ocorre a regeneração do tecido muscular. O bloqueio desses receptores inibe a regeneração muscular, sugerindo que os receptores olfativos são necessários ao complexo sistema de sinalização bioquímica que leva células-tronco a se transformarem em células musculares e a substituírem tecidos lesionados.

Os receptores olfativos são o maior subconjunto de receptores acoplados à proteína G, família de proteínas encontrada na superfície de células que permite às células detectar o que se passa à sua volta. Esses receptores são alvo comum de medicamentos, e esse fato é um indício positivo para o que se poderia descrever como medicina baseada nos cheiros.

Mas, devido à complexidade do sistema olfativo, essa medicina pode estar distante. Os humanos possuem cerca de 350 tipos distintos de receptores olfativos. Até agora, os cientistas encontraram a correspondência d e apenas um punhado deles com os compostos químicos que eles detectam. Há pouco conhecimento sobre o que faz a maioria dos receptores.

Também não está claro se os receptores olfativos têm sua origem evolutiva no nariz. “Eles são chamados receptores olfativos porque os encontramos primeiro no nariz“, disse Ben-Shahar. “Mas não se sabe quais evoluíram primeiro.“

Fonte: Folha de S. Paulo
Por ALEX STONE