Alerta sobre as injeções de girassol

Enquanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discute a proibição de medicamentos para controle de apetite, como sibutramina e anfetaminas, clínicas de estética em todo o país buscam alternativas para atrair clientes que querem perder gordura sem esforço e sem entrar na faca. A opção do momento é a injeção de enzimas extraídas de girassol.

 

A substância é sintetizada em laboratório e tem sido indicada para aplicação em áreas de gordura localizada. Mas entidades como Conselho Federal de Medicina (CFM), Anvisa e sociedades de endocrinologia e dermatologia desaprovam este tipo de procedimento. Profissionais de estética que aplicam as injeções de enzimas (ou lipossomas) de girassol dizem que esta substância quebra a gordura, que, em seguida, é eliminada na urina, sem sobrecarregar os rins e outros órgãos. E afirmam que as injeções (dez com intervalo de uma semana) não causam efeitos colaterais e não têm relação com o proibido lipostabil (a fosfatidilcolina).

 

Este fármaco, inicialmente receitado para prevenir e tratar coágulos e embolia pulmonar, passou a ser usado para acabar com gordura localizada.

 

Os lipossomas de girassol não oferecem risco. O tratamento pode ser feito até em diabéticos com doença sob controle. A contraindicação é gravidez  diz a fisioterapeuta Andreia Leitão, especializada em dermatologia funcional, que aplica o tratamento em São Paulo.  A aplicação pode ser feita em abdômen, coxa, costas, braços e joelhos.

 

Ela admite que as injeções isoladamente não resolvem e recomenda que a pessoa beba muita água para ajudar a eliminar a gordura dissolvida e evite comer gorduras e açúcares à noite, quando o metabolismo é mais lento. E sugere ainda o consumo de composto à base de plantas que aumenta a sede e facilita a eliminação da gordura.

 

O pacote de aplicações custa cerca de R$ 2 mil. A Anvisa não reconhece e não registra produtos com os nomes enzimas ou lipossoma de girassol para a perda de gordura localizada. E diz que cabe à vigilância sanitária de cada estado fiscalizar e notificar possíveis abusos. Também o CFM não aprova.

 

É mais um dos modismos da denominada medicina estética  afirma Antonio Pinheiro, conselheiro do CFM, cirurgião plástico e coordenador da câmara técnica do Conselho que trata de produtos e técnicas em procedimentos estéticos.

 

Ele recomenda que o anúncio desse tipo de tratamento seja encaminhado ao Conselho Regional de Medicina para providências quanto ao Código de Ética Médica. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Ricardo Meirelles, usar enzimas extraídas de girassol para acabar com a gordura não tem fundamento.  Desconheço qualquer evidência científica que justifique esse tratamento  diz. Eliandre Palermo, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, não conhece estudo em revistas de grande aceitação e impacto científico sobre o uso de lipossoma de girassol injetável para tratar gordura localizada. Qualquer substância injetável, principalmente em uso estético, precisa ser liberada pela Anvisa para o fim que se destina.

 

É preciso checar se esse produto tem aprovação para eliminar gordura localizada. Os tratamentos consagrados nesses casos são boa alimentação, exercício físico e lipoaspiração com profissionais habilitados, e se houver necessidade. Mesmo os tratamentos complementares, como uso de aparelhos de laser, podem ajudar a perder gordura, mas não resolvem 100% do problema  alerta a médica.

Fonte: O Globo