70 anos de bancos de leite humano no Brasil

Embrião da iniciativa que tornou o Brasil referência m undial em tecnologia para redução da mortalidade infantil e erradicação da desnutrição neonatal, o Banco de Leite Humano (BLH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), o primeiro do país, completa sete décadas de existência. Fruto de uma ação integrada entre a Fiocruz e o Ministério da Saúde, hoje a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-Br) é composta por 212 BLHs e 121 postos de coletas. Nas últimas décadas, a experiência brasileira também se tornou um modelo de referência mundial, servindo como base para a criação do Programa Ibero-americano de Bancos de Leite Humano (IberBLH). A cooperação internacional segue em crescimento: já chega a 23 o número de países da América Latina, Europa e África que adotaram a tecnologia do BLH desenvolvida pelo Brasil.

“ O banco de leite humano surgiu como uma estratégia de qualificação da assistência neonatal em termos de segurança alimentar e nutricional, com foco em ações que ajudam a reduzir a morbimortalidade infantil em instituições hospitalares. O trabalho é voltado para um seguimento muito específico: crianças que demandam cuidados especiais em unidades de terapia semi-intensiva e intensiva, ou seja, bebês que nasceram prematuros, com baixo peso, crianças que pelas mais variadas razões precisam de uma atenção especializada”, esclareceu o coordenador da rBLH-Br e da IberBLH, João Aprígio Guerra Almeida. “Além disso, a iniciativa também inclui uma forte política de apoio à amamentação: toda e qualquer mulher que tenha problemas ou dificuldades para amamentar pode procurar apoio nos bancos de leite humano”.

Apenas em 2012, a rBLH-Br beneficiou cerca de 175 mil recém-nascidos internados em Unidades de Trat amento Intensivo (UTI) e atendeu quase 1,4 milhão d e mulheres com algum tipo de dificuldade relacionada ao aleitamento. A dimensão do projeto também pode ser avaliada por seus resultados no que se refere à doação. Atualmente, são mais de 180 mil litros de leite humano coletados por ano no Brasil e nos países participantes do projeto de cooperação. “Quando você está amamentando seu filho e ainda alimenta outros bebês que estão precisando, o prazer é dobrado, triplicado, multiplicado por mil”, enfatiza a atriz e embaixadora da rBLH-Br Maria Paula Fidalgo. Para saber como doar leite humano ou esclarecer dúvidas sobre amamentação, consulte o site www.redeblh.fiocruz.br ou ligue gratuitamente para 0800 026 8877.

Todo o leite coletado passa por etapas de análise imunológicas e microbiológicas. Contudo, o trabalho nos bancos de leite humano não s e restringe a pesquisa básica, mas une esforços no qu e se trata da aplicação clínica ou da vida cotidiana dos pacientes. “No IFF, logo percebemos que não adiantava focar só na questão do leite, era preciso uma intervenção mais direta, observando o aleitamento em um contexto mais ampliado de saúde pública: a saúde da criança começa com a saúde da mulher. Os Bancos de Leite Humano são casas de apoio à amamentação”, explicou Aprígio. “Passamos, assim, a colocar como condição obrigatória para o funcionamento das unidades a atenção à mãe. É sempre preciso criar uma estrutura de amparo: quando a criança for para casa, ela precisará mamar no peito e, se é criado um suporte para a mãe antes mesmo disso, na maior parte dos casos, isso se torna possível”.

De portas abertas para apoiar, proteger e promover a amamentação, o BLH do IFF/Fiocruz recebe em média mil mães por mês, que vem tanto da rede privada, quanto da pública ansiosas por auxílio técnico e emocional. Já no corredor é possível ouvir o chorinho dos pequenos. Muitos chegam a perder peso em função da dificuldade da pega.

A conscientização da importância do leite materno exclusivo até os 6 meses de idade e a continuidade como alimento complementar até os 2 anos ou mais começa ainda no pré-natal. Durante os grupos de gestantes é possível tirar as principais dúvidas das futuras mamães, além de desmistificar crenças antigas que possam contribuir para o desmame precoce.
“A experiência da Rede BLH-BR agrega impactos para a saúde e envolve parcerias que só comprovam que quando se tem vontade política e competência técnica é possível melhorar a saúde da população em escala nacional e mundial”, conclui o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.

Fonte: Revista Fator Brasil