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Procura por vacina contra meningite em clínicas particulares aumenta
Ontem, no caminho do colégio para a natação, Arthur Salomão, de 9 anos, parou em uma clínica particular de vacinação da Tijuca para se proteger contra a meningite meningocócica. Assim como ele, nas últimas semanas, centenas de crianças vêm recebendo a imunização contra os tipos A, C, W e Y. Sua avó, Vera Lúcia Mendes Salomão, que o acompanhava, contou que há uma onda de preocupação nas escolas após uma estudante de uma unidade do colégio MV1, moradora da Zona Norte, ter tido o diagnóstico confirmado da doença.
— A mãe dele achou melhor trazer, já que todos os colegas estão se vacinando — disse. — Antes disso, conversamos com o pediatra, que indicou a aplicação.
As escolas costumam enviar circulares aos pais quando há casos da enfermidade entre os alunos. O Colégio Santo Agostinho do Recreio dos Bandeirantes, por exemplo, divulgou recentemente uma circular sobre uma suspeita. No ano passado, o caso de um estudante da Escola Nova, da Gávea, causou comoção e forçou coordenadores a levarem profissionais de saúde pública para tranquilizar e orientar os responsáveis. Neste ano, no entanto, alertas em redes sociais e em aplicativos de mensagem têm intensificado a angústia de forma desmedida.
Consultadas pelo GLOBO, oito clínicas de vacinação particulares do Rio afirmaram estar com uma procura atípica em relação a outros anos. Uma delas informou que cerca de 300 pessoas se imunizaram desde a quarta-feira passada. Em meia hora em um dos estabelecimentos, a reportagem contabilizou dez telefonemas para perguntar sobre a disponibilidade do medicamento. “Não, não é epidemia, senhor”, respondia uma das atendentes.
Não mesmo, segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Rio. Por meio de nota, a pasta informou que “não existe indício para caracterizar surto ou epidemia de meningite em qualquer localidade” do estado. De acordo com a Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Ambiental, no primeiro trimestre deste ano, foram registrados 32 casos de doença meningocócica no estado. No mesmo período de 2014, foram 48 casos.
Ocorrência aumenta no inverno
Enquanto pais e mães se apressam para proteger os pequenos, pediatras e infectologistas esclarecem que nessa época d o ano começam a surgir os casos, por isso, a proteção é importante, apesar de não haver motivo para pânico. Com a aproximação do inverno — quando as pessoas ficam aglomeradas, e as janelas, mais fechadas —, a ocorrência da doença tende a aumentar, explicou o infectologista Jacyr Pasternak, do Hospital Albert Einstein, uma vez que a enfermidade é transmitida por contato próximo entre pessoas.
Na sexta-feira 24 de abril, Dia Mundial de Combate à Meningite, uma atividade no Cristo Redentor será realizada, reunindo gestores de saúde, atores, cantores e até jogadores de futebol, para chamar atenção para a doença. Segundo Pasternak, há dois tipos: a meningite viral, que muitas vezes sequer é diagnosticada e tem tratamento simples, e a bacteriana, que é a que mais preocupa, já que tem um avanço muito rápido e pode levar à morte.
— Muita gente tem a bactéria Neisseria meningitidis vivendo na garganta, mas não desenvolve a meningite meningocócica. Em uma tosse ou um espirro, ocorre a transmissão — disse, complementando que os sintomas da bacteriana são dor de cabeça, náuseas e vômitos e, em casos mais graves, lesões na pele.
O sinal mais comum e fácil de ser identificado é pedir para que a pessoa abaixe o queixo em direção ao peito. A dor, se houver infecção, é sentida não pela localização da bactéria na nasofaringe, mas pelo fato de que a doença decorre da inflamação das membranas do cérebro.
Pasternak afirma que, se o tratamento com antibióticos for iniciado rapidamente, a meningite tem cura. Se não, há risco de sequelas neurológicas, como surdez, e até a possibilidade de óbito em 24 horas, sendo importante que os pais fiquem atentos às reclamações de seus filhos.
— O melhor jeito de se proteger é a vacinação — disse. — A imunização não oferece risco nem tem contraindicação.
Na rede pública desde 2010, a vacina contra o tipo C é oferecida em duas doses no primeiro ano de vida, aos 3 e aos 5 meses, além de um reforço aos 12 meses ou logo depois. Segundo o médico, nessa faixa etária há menos anticorpos.
Já na rede privada, há a quadrivalente A, C, W e Y, indicada por alguns pediatras, e que pode ser tomada a partir dos 2 anos. Por ser possível haver queda de imunidade anos após a vacinação, é recomendado reforço por volta dos 6 anos e outro na adolescência. A A, C, W e Y oferece proteção contra os outros sorogrupos de menigococo. O tipo A foi o causador de epidemia na década de 1970, mas hoje é raro no Brasil, tendo maior relevância na África. Já o W e o Y têm apresentado incidência pequena (cerca de 10%). O C é o que prevalece, com cerca de 70% dos casos.
Anvisa aprova registro da tipo B
Ainda sem imunização disponível no país, o tipo B vem se tornando mais frequente no país e é o principal causador da doença meningocócica em menores de um ano. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro do medicamento produzido pela Novartis, mas ele ainda não está disponível nas redes privada e pública. A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), Isabela Ballalai, diz que vai recomendar a incorporação da vacina contra o tipo B no calendário nacional de vacinação do SUS:
— No Sul, o meningo B é responsável por quase 40% das doenças. Já em todo país, por cerca de 20%.
Nos Estados Unidos, a Administração Federal para Drogas e Alimentos (FDA, na sigla em inglês) aprovou no final do ano passado a primeira vacina contra o tipo B, produzida pela farmacêutica Pfizer, após ocorrências da doença em vários campus universitários desde 2013. (Colaborou Flávia Milhorance).
Fonte: Portal O Globo