Moléculas promissoras são identificadas para o tratamento de leucemia, aponta estudo

 Três moléculas promissoras para o tratamento da leucemia, capazes de atuar seletivamente sobre as células cancerígenas, com pouco impacto sobre os leucócitos saudáveis, foram identificadas por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), segundo informações da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

A pesquisa, cujos resultados preliminares foram publicados na revista científica “European Journal of Medicinal Chemistry”, pretende contribuir com a redução da mortalidade da doença, conhecida como “câncer no sangue”. Com uma ocorrência de mais de 10 mil novos casos no Brasil apenas em 2014, a leucemia leva seis mil pessoas desse total à morte, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A doença maligna acom ete os l eucócitos, ou glóbulos brancos, que são produzidos na medula óssea e responsáveis por grande parte da defesa do nosso corpo. Assim, um dos sintomas da doença de origem geralmente desconhecida é a queda na imunidade do paciente.

Segundo Floriano Paes Silva, um dos coordenadores da pesquisa e chefe do Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos, do IOC, e Cientista do Nosso Estado, da Faperj, as moléculas com potencial de ação seletivo para células malignas são chamadas tecnicamente de hits (em português, acerto).

“Elas atuam no alvo certo, preservando as células sadias e, com isso, os efeitos adversos são minimizados”, diz o pesquisador à Fundação, acrescentando que encontrá-las é o primeiro passo para desenvolver novos fármacos que sejam mais poten tes e que, ao mesmo tempo, sejam menos tóxicos.

A proposta da pesquisa foi combinar dois tipos de arcabouço molecular com ação já conhecida na farmacologia. Potente contra a leucemia, mas geralmente tóxico ao organismo, um deles é o núcleo naftoquinona. Já o outro é o núcleo triazol, chamado de núcleo privilegiado, capaz de fornecer diferentes tipos de interação com outras moléculas, como modular a atividade de uma substância ou alterar o seu padrão de seletividade.

“A partir desse conhecimento, a ideia foi combinar as duas estruturas para tentar obter uma composição que mantivesse a atividade anticancerígena, mas que fosse menos prejudicial aos tecidos saudáveis”, diz Silva, complementando que cerca de 30 novos princípios ativos foram s intetizados pelo s eu grupo de pesquisa, em parceria com a equipe da UFF, dos quais três foram considerados promissores.

Em seguida, os estudiosos testaram esses novos compostos em glóbulos brancos saudáveis e em quatro tipos diferentes de leucemia, consideradas mais letais. De acordo com Silva, a razão para isso é que a variedade de formas da doença faz com que cada uma apresente características clínicas específicas e, assim, a resposta aos fármacos seja bastante diversa.

“Os experimentos mostraram que concentrações mínimas desses compostos foram capazes de matar metade das células malignas, preservando a integridade de leucócitos sadios. Estes só foram destruídos quando administramos doses com concentração 20 vezes maior que a inicial”, afirma.

PERFIS GENÉTICOS DISTINTOS

O pesquisador destaca, ainda, que outro resultado positivo foi que os diversos compostos sintetizados apresentaram ações diversas sobre algumas linhagens da doença, o que comprova que células cancerígenas com perfis genéticos distintos têm respostas diferentes aos fármacos. Um exemplo seria que uma das substâncias se mostrou 19 vezes mais potente sobre células de leucemia linfoide (mais frequente na criança) do que sobre aquelas de leucemia mieloide (mais comum no adulto). Para Silva, essa seletividade é “muito boa“ para o desenvolvimento de tratamentos, já que quanto maior a especificidade de uma terapia, melhor ela será.

O próximo passo do estudo, segundo o pesquisador, é identificar os mecanismos de ação dessas substâncias promissoras. Isso é, entender como ocorre a indução da morte de células malignas e expandir a avaliação da citotoxicidade desses compostos e, ainda, analisar quais são os fatores que protegem os leucócitos saudáveis. Estima-se que pelo menos mais dez anos de estudos sejam necessários para que as moléculas hits cheguem de fato a compor um novo fármaco, englobando pesquisas de base e, posteriormente, ensaios clínicos com modelos experimentais.

“Nossa expectativa é que, num futuro próximo, essas moléculas possam se tornar uma alternativa viável para o tratamento de casos resistentes ou de reincidência da leucemia linfoide aguda, ajudando a reduzir as taxas de mortalidade da doença”, relatou.

Fonte: Portal G1