Fiocruz acha superbactéria em rio da Zona Sul carioca

 Bactéria KPC, que apresenta resistência aos antibióticos, foi identificada no Rio Carioca, que passa por diversos bairros e deságua na Praia do Flamengo

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) encontraram uma superbactéria nas águas poluídas do Rio Carioca, que passa por diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro e deságua na Praia do Flamengo. Trata-se da KPC, bactéria resistente a antibióticos que costuma ser detectada em ambientes hos pitalares. 

No estudo, feito em julho do ano passado, os cientistas coletaram amostras de água coletadas em três pontos da Zona Sul: no Largo do Boticário, no Cosme Velho; no Aterro do Flamengo, antes da estação de tratamento do rio; e na foz do Rio Carioca, no ponto onde ele deságua na Praia do Flamengo. Os resultados da análise foram divulgados neste fim de semana pela Fiocruz. 

Resistência — De acordo com a coordenadora do trabalho, Ana Paula Assef, do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz, até agora não houve registro de con taminação pela bactéria entre pessoas que frequentam os locais estudados. Mesmo assim, diz a pesquisadora, é preciso que as autoridades tenham cuidado, uma vez que a disseminação de uma bactéria resistente a antibióticos dificulta o controle das infecções e pode aumentar o problema da resistência a antibióticos.

“Ao entrar na água onde há bactérias KPC, o banhista pode ser colonizado por estes microrganismos. Mesmo que não fique doente naquele momento, eventualmente, ele pode carregar estas bactérias resistentes para o ambiente e para outras pessoas, estabelecendo um ciclo de disseminação”, diz Ana Paula.

A KPC pode ser encontrada vivendo normalmente no intestino de uma pessoa e pode provocar doenças comuns, como as gastrointestinais, pneumonia ou infeção urinária. No entanto, cerca de 20% das contaminaç ões pelo microrganismo podem não ser vencidas por nenhum antibiótico. De acordo com um levantamento do Ministério da Saúde, a bactéria matou 106 pessoas em 2010 e 2011 no Brasil.

“Mergulhar num rio onde há bactérias KPC é como mergulhar em qualquer rio poluído. O problema é que, no caso de uma eventual infecção, é possível que o tratamento exija uma abordagem de internação hospitalar”, diz Ana Paula.

Segundo alerta — Essa não é a primeira vez em que cientistas alertam para a presença da KPC no Rio de Janeiro. Em 2010, a Fiocruz publicou um artigo apont ando a presença da superbactéria no esgoto hospitalar carioca mesmo após este ter passado por tratamento. Agora, a nova pesquisa indica qual o caminho percorrido pelo microrganismo na cidade, levado pelo Rio Carioca até a Praia do Flamengo. 

Segundo os especialistas, existem duas possibilidades para explicar a presença de KPC no rio: a bactéria sobreviveu ao tratamento da água ou então não houve tratamento naquele determinado período da análise.

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