Crise está a aumentar número de casos de alcoolismo

 A crise está a aumentar o número de casos de alcoolismo e a tornar os consumos mais perigosos, sobretudo nas bebidas destiladas e cerveja, alerta o presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, avança a agência Lusa, citada pelo Diário de Notícias.

“Aquilo que verificámos em estudos e padrões de consumo é que tem havido um aumento progressivo do consumo de bebidas destiladas. Mesmo no caso dos jov ens, são as bebidas mais consumidas“, explica o médico Augusto Pinto, em declarações à Lusa, na véspera do Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos.

De acordo com o presidente da Sociedade, a crise que se vive actualmente no país “pode efectivamente agravar os consumos“ e ao mesmo tempo levar “a consumos mais perigosos“, acrescentando que a capacidade de desenvolver doenças “é mais grave nas bebidas destiladas“, comparando com a ingestão de vinho.

“Sendo ambas portadoras de álcool, a quantidade é maior nas destiladas, o que faz prever uma redução do tempo necessário para chegar à doença“, alerta Augusto Pinto, avançando que são necessários dez anos de consumo “elevado, habitual, regular e excessivo“ para chegar à dependência, mas, caso as bebidas destiladas sejam consumidas regularmente, a dependência surge mais cedo.

“Eu diria que a crise pode efectivamente agravar os consumos e pode levar a consumos mais perigosos. As consequências orgânicas e a capacidade de desenvolver doen ças é mais grave nas bebidas destiladas do que em alguém que consume vinho ou aguardente. Sendo ambas portadoras de álcool a quantidade é maior nas destiladas“, frisa o especialista.

Para o médico, a pessoa, normalmente, não se reconhece como doente pelo facto de “beber algumas vezes de forma excessiva e ficar embriagado“, situação que “entra dentro de uma normalidade aceite na sociedade“, explica.

De acordo com Augusto Pinto, o facto de alguém beber com regularidade cria uma situação designada no meio méd ico como tolerância, ou seja, a pessoa vai aguentando-se cada vez mais temp o sem ficar embriagada.

“Fica com a ideia de que aguenta cada vez mais a bebida e que isso é um aspecto positivo e não negativo. Ora quanto maior capacidade de consumo a pessoa tem (...) mais perto está de ser meu cliente, doente“, explicou.

Augusto Pinto desmistifica ainda o mito de que os doentes alcoólicos andam sempre embriagados, alertando que é precisamente o contrário, graças à tolerância que ganham através do tempo.

 “Quando começam a reduzir essa capacidade [de enorme tolerância] é sempre um mau prognóstico. Significa que em termos cerebrais e hepáticos as coisas estão piores ou agravadas“, revela.

De acordo com o especialista, há muito a fazer na área da prevenção e intervenção precoce, embora reconhecendo que a existência de um dia nacional possa chamar a atenção do problema, revela que não tem o mesmo impacto ao nível de doentes com outro tipo de patologias, porque se tratam de doentes com d ificuldade em aparecer, na sua maioria anónimos.

“Sempre defendemos a existência, para além dos grupos de alcoólicos anónimos, de grupos de alcoólicos tratados, já que todos são importantes porque são ambos de auto-ajuda. Em algumas pessoas é importante a relação de anonimato, mas outros encaram a doença como outra qualquer e havia a necessidade de que estes estigmas fossem esbatidos na sociedade e que se respeitasse ainda mais os doentes não tratados“, salientou.

Augusto Pinto lembra ainda a acessibilidade ao álcool existente no nosso país, com uma “cultura muito enraiza da em relação à substância“ o que dificulta o trabalho de prevenção.

“Toda a população considera normal o consumo de bebidas alcoólicas, não perspectivamos nenhuma actividade festiva sem álcool. Em todas as festas há álcool na mesa“, lembra.

Para Augusto Pinto, parte da solução do problema passa pela &quo t;mudança de consciência“ e aceitação do doente tratado na sociedade e o aumento das respostas, nomeadamente na capacidade de intervenção de técnicos e médicos especializados no problema.

Fonte: RCM Pharma