Tecnologia realiza biópsia líquida do câncer a partir de amostras de sangue

 Novo chip é capaz de encontrar células tumorais que estão circulando pelo sangue do paciente, em meio a bilhões de células normais

 Pesquisadores americanos anunciaram a criação de um novo chip capaz de capturar células cancerosas que estão circulando pelas amostras de sangue de um paciente, e cultivá-las para uma análise mais detalhada. Nos laboratórios médicos, tal dispositivo poderia ajudar a diagnosticar os cânceres de forma mais rápida e a fazer previsões mais precisas sobre os resultados dos tratamentos.

Se conseguirmos fazer essa tecnologia funcionar, ela vai ajudar no desenvolvimento de novos medicamentos contra o câncer e revolucionar o tratamento de pacientes, diz Max Wicha, pesquisador da Universidade de Michigan e um dos criadores da tecnologia, que foi descrita em um estudo publicado na revista Nature Nanotechnology no dia 29 de setembro.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Sensitive capture of circulating tumour cells by functionalized graphene oxide nanosheets

Onde foi divulgada: periódico Nature Nanotechnology

Quem fez: Sunitha Nagrath, entre outros pesquisadores

Instituição: Universidade de Michigan, nos Estados Unidos

Resultado: Os pesquisadores desenvolveram um dispositivo capaz de analisar amostras de sangue em busca de células tumorais. Em dez testes, a tecnologia foi capaz de detectar, em média, 73% das células cancerosas em meio a um mililitro de sangue

As células cancerígena s que circulam pelo sangue surgem no tumor principal, m as se desprendem e passam a percorrer o corpo. São elas que, ao se alojar em outros tecidos, induzem o surgimento de novos tumores e dão início à metástase. Segundo os cientistas, a análise dessas células tumorais na corrente sanguínea pode, no futuro, desempenhar um papel importante no diagnóstico precoce do câncer e ajudar os médicos a acompanhar em tempo real se os tratamentos estão funcionando nos pacientes — servindo como uma espécie de “biópsia líquida” dos tumores.

O método, no entanto, está longe de ser colocado em prática pelos médicos, pois é extremamente difícil separar as células tumorais de todas as outras circulantes no sangue de um paciente. Em meio a uma amostra retirada de um indivíduo com câncer em estágio inicial, por exemplo, o tumor é responsáve l por menos de uma em cada bilhão de células sanguíneas. Mesmo depois de capturadas, os cientistas encontram dificuldades em executar uma análise robusta em um número tão pequeno delas, diminuindo a utilidade do procedimento.

O problema, no entanto, pode vir a ser resolvido com a criação do novo chip. Nele, os cientistas construíram pequenas cadeias de moléculas preparadas para agarrar as células tumorais. Depois de capturá-las, o dispositivo é capaz de mantê-las isoladas e cultivar seu crescimento, criando uma cultura de células que pode ser analisada pelos pesquisadores.

Flores de ouro — Os pesquisadores começaram a desenvolver a tecnologia usando uma base de silício, sobre a qual foi montada uma rede de cerca de 60.000 filamentos de ouro, menores do que um fio de cabelo, organizados em grupos de quatro — como as pétalas de uma flor. Essas flores de ouro eram capazes de atrair um novo tipo de material utilizado na eletrônica, conhecido como óxido de grafeno. Formado a partir de folhas de carbono e oxigênio empilhadas, medindo apenas alguns átomos de espessura, o material permitiu aos pesquisadores construir as cadeias moleculares capazes de capturar as células dos tumores. “É como se cada grafeno tivesse muitos nano-braços para capturar células“, diz Sunitha Nagrath, pesquisadora da Universidade de Michigan que também participou do estudo.

Para testar o dispositivo, os cientistas passaram amostras de um mililitro de sangue através do chip. Mesmo quando existia apenas de três a cinco células tumorais entre 5 ou 10 bilhões de células sanguíneas normais, o chip teve sucesso em diagnosticar o câncer. Em metade dos testes, ele foi capaz de capturar todas as células tumorais. Nas dez tentativas, a média de captura foi de 73% das células. “Isso é o máximo que alguém já conseguiu em uma concentração tão baixa de células“, afirma Nagrath.

Os pesquisadores também utilizaram o dispositivo para cultivar células de câncer de mama ao longo de seis dias, utilizando um microscópio eletrônico para enxergar como elas s e espalhavam pelas flores de ouro. “Quando nós temos apenas células individuais, a quantidade de material em cada uma delas costuma ser tão pequena que é difícil desenvolver ensaios moleculares. O dispositivo permite que as células sejam cultivadas em quantidades maiores, de modo a facilitar as análises genéticas“, disse Max Wicha.

O chip desenvolvido pelos pesquisadores pode capturar células cancerosas do pâncreas, da mama e do pulmão a partir de amostras de sangue dos pacientes. Segundo os cientistas, a tecnologia deve passar por mais testes, além de ser patenteada pela equipe, e pode chegar aos laboratórios em três anos.

Fonte: Veja Online