Exercícios físicos funcionam tanto quanto drogas para tratar o coração

 Prática de esportes têm o mesmo efeito positivo de estatinas, diuréticos e anticoagulantes

Ser fisicamente ativo é a melhor maneira de evitar mortes por problemas do coração. Pesquisadores mostraram que entre pessoas que já tiveram algum evento cardiovascular, como derrame ou insuficiência cardíaca, o exercício é tão eficaz quanto medicamentos. A conclusão vem de uma ampla revisão de estudos publicada “British Medical Jou rnal 221;.

Ao todo, os pesquisadores coletaram informações de 340 mil pacientes, com base em 305 estudos de três importantes centros universitários: London School of Economics, do Reino Unido, Escola Médica de Harvard Medical e Universidade de Stanford, dos EUA. Ao compararem os dados, notaram que a influência do exercício físico na redução das taxas de mortalidade era o mesmo de 12 tipos de drogas para o coração, incluindo estatinas, betabloqueadores, diuréticos e anticoagulantes.

Atividade física é ‘alternativa viável’
No texto, eles afirmam que “não houve diferença estatística” entre eles e dizem que a atividade física é uma “alternativa viável” na prevenção de mortes por doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, prevenção de diabetes e derrame. Havia apenas duas exceções: as drogas chamadas diuréticas tiveram melhore s resultados em expectativa de vida em pacientes com parada cardíaca, enquanto que o exercício foi mais eficiente naqueles com derrame.

Por isso, além de uma simples recomendação, eles querem que a atividade física seja de fato prescrita em casos de problemas cardíacos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um mínimo de 150 minutos de atividade física moderada por semana. Uma prática que, entretanto, é regular apenas entre 33,5% dos brasileiros, segundo dados de 2012 da Pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde.

O sedentarismo, aliado a outros fatores de risco, foi responsável pela morte de 17,3 milhões de pessoas por doenças cardiovasculares em 2008 no mundo, 30% do total, de acordo com a OMS. Para 2030, estimam-se 23,3 milhões de óbitos. Esta é inclusive a principal causa de morte no mundo.

O estudo ainda levanta o debate sobre a prescrição de medicamentos em excesso. No Reino Unido, por exemplo, a taxa de uso de drogas por indivíduo foi de 11,2% no ano 2000 para 17,7% em 2010. No Brasil, as vendas de remédios subiram 10,45% de janeiro a julho deste ano na comparação com o ano anterior, alcançando R$ 10,9 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Os dados não apontam o número de medicamentos para o coração. Mas a título de comparação, em 2011, nos EUA prescreveram 250 milhões de receitas para redutores de colesterol, de acordo com o instituto IMS Health.

— O resultado das drogas na redução de mortalidade é muito pequeno. Em média, apenas um a cada 40 pacientes que tomam remédio se beneficiará dele no caso de prevenção secundária, ou seja, quando o paciente já teve o ataque cardíaco ou o derrame. Se for em prevenção primária, esta média é de um para cada 200 — explicou o professor titular de Cardiologia da UFRJ, Nelson Souza e Silva. — O exercício é mais benéfico porque atua no corpo como um todo, e não apenas num sistema fisiológico, como o med icamento faz.

Mesmo assim, o Serviço Nacional de Saúde do Rei no Unido ponderou que, mesmo que o exercício tenha “um papel vital” na saúde, o uso do medicamento não deve ser interrompido sem orientação: “Exercícios regulares são parte importante do estilo de vida saudável. Ao mesmo tempo, decisões sobre quais drogas prescrever são feitas por médicos baseados em necessidades individuais. Não é aconselhável parar a medicação sem falar com o especialista”, afirmou em nota, segundo o jornal britânico “Independent”.

— O medicamento tem resultados melhores para casos de alto risco. Nos de menor risco, o melhor é a atividade física e a dieta balanceada — complementou Souza e Silva.

O aumento da prescrição de medicamentos para o coração já teve outro capítulo este mês: a Sociedade Brasileira de Cardiologia publicará novas orientações sobre o limite saudável do LDL (colesterol ruim) no sangue: de 100 miligramas por decilitro para pacientes com alto risco de doenças cardiovasculares (com histórico familiar, por exempl o) para 70 miligramas. A medida, sem consenso entre especialistas, deve levar ao maior consumo de estatinas, e pessoas que hoje não se preocupam com o LDL no exame de sangue poderão passar a tomá-lo.

Fonte: O Globo Online