Em procedimento inédito, cientistas implantam prótese de mão biônica controlada pelo cérebro

 Três austríacos se tornaram as primeiras pessoas do mundo a participar de um procedimento inédito de reconstrução biônica que os permitiu substituir suas mãos por próteses controladas pelo cérebro e que lhes dão vantagens comparáveis às de um membro enxertado. O procedimento foi realizado entre abril de 2011 e maio de 2014, porém só foi revelado nesta quarta-feira pela revista médica “The Lancet“.

Os três pacientes mencionados pela publicação britânica foram vítimas de acidentes que danificaram o seu plexo braquial — conjunto de nervos situados na altura do pescoço que comandam os movimentos dos membros superiores. Markus Kemeter, de 35 anos, se voluntariou a ter a sua mão amputada para receber a nova prótese.

— Não foi difícil para mim decidir por fazer a operação. Eu não conseguia fazer nada com a minha mão. A prótese não substitui totalmente a minha mão, mas eu posso fazer diversas coisas agora — afirmou Kemeter. — Eu podia sentir tudo, mas não conseguia fazer nada com a minha mão.

O novo procedimento, que combina reconstruções cirúrgicas com avançadas próteses e meses de treinamento e reabilitação, foi desenvolvido pelo professor Oskar Aszmann, da Universidade de Viena. A técnica oferece esperança a pacientes que, como Kemeter, tiveram ferimentos no plexo braquial que resultaram na perda da funcionalidade dos membros, devido a danos severos aos nervos.

Até agora, o único exemplo conhecido era o de um lituano de 21 anos, que nasceu com uma má-formação congênita. Seu braço inerte recebeu o implante de uma prótese mecânica. A cirurgia foi realizada pelo professor Aszmann no fim de 2014.

De acordo com Aszmann, a reconstrução biônica é menos arriscada que o enxerto da mão, praticado desde 1997 nesses casos, e que implica no uso de medicamentos imunossupressores muitos fortes.

— No caso de perda de uma única mão, acho que a reconstrução biônica traz mais benefícios, porque não tem efeitos colaterais e porque a qualidade da função recuperada é quase tão boa quanto a de um enxerto — explicou o cirurgião austríaco à AFP. — Não há sensibilidade, não há carne, nem sangue, só plástico e componentes. Mas do ponto de vista funcional, é comparável a um enxerto — afirmou.

A grande novidade do novo procedimento foi criação de uma transmissão completa do impulso neurológico até a mão biônica. A prótese está equipada com captores que respondem a impulsos elétricos que os músculos emitem Para isso, Aszmann enxertou nos antebraços dos pacientes músculos extraídos do interior de seus músculos e, depois, nervos provenientes de outra área da medula espinhal, diferente do plexo braquial.

— A mão está muito longe do cérebro — explicou o médico. — Isto implica regenerar mais de um metro de nervos. A segunda dificuldade é que a própria mão precisa de uma grande quantidade de impulsos enviados pelos nervos para fazer o que pode fazer — completou.

Apesar da promissora técnica, Aszmann explica que, após o intenso período de treinamento cognitivo que os pacientes devem ser submetidos antes da amputação, eles podem se revelar impossibilitados de participar do procedimento por não estarem “prontos psicologicamente“ ou por falta de um ambiente adequado para cuidarem da prótese.

Fonte: Portal O Globo